Alegorismo medieval, arquitetura gótica e a Iconologia de Panofsky

Do Alegorismo Medieval:

“Como a Iconologia, o Alegorismo Medieval é um método tripartite de interpretação. Inicialmente aplicado à exegese bíblica, o então “alegorismo sagrado” posteriormente se torna “alegorismo universal”, ao ser aplicado a todas as obras do Criador. Como demonstraremos posteriormente, o Alegorismo Medieval é o principal elo genético entre a Iconologia, o método mais utilizado em história da arte, e o habitus, obra “mais apaixonadamente defendida por Panofsky”.

O Alegorismo apresenta três camadas de sentido, à semelhança da Iconologia: o primeiro, literal – ou histórico –, o segundo, moral ou – tropológico – e o último, místico – ou anagógico. Também são trinos seus postulados: primeiramente afirma que tudo é imagem; em seguida, afirma que todas as imagens contêm discursos análogos; e em seu último postulado afirma que todos os discursos têm o mesmo objetivo de expor a presença de Deus.
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O conceito de “habitus” na obra de Erwin Panofsky

Este trabalho abrange o conceito de habitus, segundo a obra Arquitetura Gótica e Escolástica de Erwin Panofsky, visando o seu distanciamento das historiografias passadas – como a de Wölfflin, Riegl, Warburg ou Cassirer –, os debates que os trabalhos de Panofsky produziram, e a influência que sua teoria e metodologia exerceram sobre autores posteriores a ele, nas mais diversas áreas, através desse conceito. Tal influência faria com que o conceito fosse reapropriado por autores como Gombrich, Eco, Bourdieu e Chartier. Os dois últimos, especialmente, reconheceram no habitus a superação, por Panofsky, de suas críticas à obra de Wölfflin e Riegl: a superação do positivismo e do formalismo, assim como o abandono da procura pelo precursor, a capacidade e liberdade da invenção individual, a abordagem psicológica do gênio, e o distanciamento da “História do Espírito”. Apesar de se mostrar uma eficaz solução teórica a muitas questões históricas abertas até então (algumas comuns também à escola dos Annales), foi dedicado a esse conceito muita pouca atenção por parte de historiadores e teóricos. No mais das vezes, estes voltam sua atenção apenas para seu renomado método Iconológico, ou para as “formas simbólicas”. Contudo, há no conceito de habitus e na Iconologia uma gênese historiográfica muito próxima. Ambos surgem do interesse de Panofsky pelo fenômeno gótico, pela escolástica – especialmente por Aquino e Suger – e pelo alegorismo sagrado. O alegorismo – a concepção medieval de se revelar sentidos trinos em textos e imagens – é a base na qual Panofsky concebeu seu método tripartite de investigação do significado artístico – a Iconologia. Da mesma forma, a formulação do habitus e da renomada tese de Arquitetura Gótica e Escolástica tem uma base escolástica em comum com o próprio alegorismo.

Para a dissertação em PDF:

http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BUOS-8L4RF2/disserta__o_liszt_vianna.pdf?sequence=1

Modernismo, socialismo e exílio: Alexander Altberg no Rio de Janeiro da Era Vargas (1930-1945)

Excerto:          “Após perderem boa parte de suas posses ao longo das crises do entreguerras, a família Altberg perde seu status econômico confortável, o que aproximou os pais do partido comunista, ao qual eram filiados. Isso tem um impacto bastante significativo nas memórias mais antigas de Altberg. Certamente, a mais marcante memória desse período é de quando sua mãe o leva ainda criança para assistir um dos últimos discursos públicos de Rosa Luxemburg em Berlim. Alexander lembrava-se bem de receber em casa o jornal comunista Rote Fahne (Bandeira Vermelha) e o jornal burguês Berliner Tageblatt (Diário Berlinense).  Quando estudante, Altberg ajudou a organizar uma célula do partido comunista no bairro de Wilmersdorf, em Berlim, e participou do Congresso Comunista de Leipzig (ALTBERG, 2008). Mesmo no Brasil, esse ideário comunista permaneceu em Altberg.

Em 1925, ainda com 17 anos, Altberg ingressou na Bauhaus Dessau. Lá cursou o Vorkurs, ou curso preliminar, que duraria cerca de um ano e introduziria o aluno aos fundamentos da arquitetura através da prática com materiais e estudos das formas, para depois partir para estudos especializados. Do período, Altberg relembrou a horizontalidade da relação entre o professor e o aluno, mas também se ressentia das dificuldades financeiras da escola e do experimentalismo que, apesar de construtivo, não garantia uma formação e um diploma em arquitetura:
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