“Berlim como ‘cidade linear'” ou “Berlim como hotel e fábrica”

Excerto: “O nome [da proposta urbanística de Arthur Korn para Berlin], “A cidade como Hotel e Fábrica”, se refere às duas funções principais da cidade, habitação e trabalho, que deveriam ser conectadas pelo transporte e preenchidas pelas recreações. Seria uma Berlim “elástica”, projetada sob os princípios da racionalidade, da qualidade dos meios de transporte, da flexibilidade na expansão das áreas verdes e construções. O projeto seguia o conceito de “cidade linear”, ou Bandstadt (cidade em fita), vindo do “desurbanismo” soviético, que visava eliminar a dicotomia cidade-campo. Era uma tipologia de reforma relativamente nova, cujo projeto se assemelhava à Magnitogorsk, [URSS]. Seu eixo principal se estenderia ao longo de uma via central, com bondes e autoestrada.
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A Woningwet neerlandesa

Como alguns países da Europa continental, a Holanda passou por um processo de Industrialização relativamente tardio acompanhado de um baixo desenvolvimento social. Por isso, a situação geral do operariado neerlandês era péssima, assim como suas condições de habitação e trabalho. A Woningwet (literalmente “habitação” em neerlandês) surgiu em 1901 como a primeira lei de moradia pública na Holanda – a primeira atuação do Estado na acomodação dos trabalhadores rurais recém-chegados às cidades.

Inicialmente a Woningwet teve uma recepção ruim entre a burguesia imobiliária, por afetar a especulação, entre as administrações locais, por demandar desapropriações e fiscalização, e entre o operariado, por conta das desapropriações das ocupações irregulares. A Woningwet previa uma grande intervenção na vida pública local, até então pautada no liberalismo, demandando planos diretores, estipulando o preço do aluguel, determinando desapropriações, e incentivando a construção habitacional através de empresas sem fins lucrativos. Ao contrário do modelo das leis inglesas, notadamente higienistas, a Woningwet tinha um caráter fundamentalmente urbanista.
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Flânerie, Badaud e devaneio: a deriva de W. Benjamin pela Belo Horizonte transtemporal

Excerto: “[…] Em Belo Horizonte, a flânerie da Paris modernizada surgiria não apenas nos projetos arquitetônicos próprios do séc. XIX: estações ferroviárias, pavilhões de exposição e lojas de departamento, mas também ocorreria no mercado, na praça, e na galeria. O surgimento do flâneur representa a resistência à modernidade dentro dela mesma, reforçando a relação individual com espaço urbano, e florescendo a partir do entrecruzamento urbano, ou seja, em um espaço que dialoga através de suas passagens, nas imagens de seus espelhos e de suas vitrines. Outra forma de resistência da flânerie é a ociosidade. Essa seria um protesto contra a divisão do trabalho e uma resistência ao trabalho industrial moderno. O flâneur também resistia à pressa dos carros e ao passo apertado dos transeuntes. Na Paris de 1839, flanava-se nas passagens levando consigo uma tartaruga doméstica: uma clara oposição ao tempo burguês. No caso específico de Belo Horizonte, a flâneurie tem um caráter de resistência que extrapolaria o caso europeu, por conta do caráter próprio de sua situação histórica. Na nova capital mineira o ritmo lento do campo encontra seu espaço na flânerie. Continue reading