A morte do arquiteto: Parametrização e fabricação digitaL

Como a parametrização e a fabricação digital podem mudar o processo de produção e vivência do espaço?

O meio digital não é a binarização do papel. A parametrização e a fabricação digital devem mudar a relação do arquiteto com o espaço, e não apenas serem seu instrumento – não devem apenas facilitar o processo de produção e vivência do espaço, mas subvertê-lo. Com a parametrização, o espaço ganha abertura, na medida que o arquiteto cede o controle a processos cujo seu domínio é restrito. Cedendo o controle do projeto, ele cede o significado e a interpretação do espaço às demandas de quem o habita. Em certo sentido, todo espaço é aberto pois sua interpretação nunca é unívoca. Contudo, tratamos de uma abertura específica – aquela que, através de meios digitais, retira do autor suas determinações sobre a obra, entregando ao usuário o significado e a interpretação do espaço. Procedimento semelhante operou a música contemporânea que gradualmente cedeu ao intérprete uma notação semelhante aos “jogos de armar”, criou possibilidades combinatórias, zonas de indeterminação, campos probabilísticos: é o caso das obras de Boulez, Berio, Stockhausen, Xenakis, entre outros. 

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“Berlim como ‘cidade linear'” ou “Berlim como hotel e fábrica”

Excerto: “O nome [da proposta urbanística de Arthur Korn para Berlin], “A cidade como Hotel e Fábrica”, se refere às duas funções principais da cidade, habitação e trabalho, que deveriam ser conectadas pelo transporte e preenchidas pelas recreações. Seria uma Berlim “elástica”, projetada sob os princípios da racionalidade, da qualidade dos meios de transporte, da flexibilidade na expansão das áreas verdes e construções. O projeto seguia o conceito de “cidade linear”, ou Bandstadt (cidade em fita), vindo do “desurbanismo” soviético, que visava eliminar a dicotomia cidade-campo. Era uma tipologia de reforma relativamente nova, cujo projeto se assemelhava à Magnitogorsk, [URSS]. Seu eixo principal se estenderia ao longo de uma via central, com bondes e autoestrada.
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A Woningwet neerlandesa

Como alguns países da Europa continental, a Holanda passou por um processo de Industrialização relativamente tardio acompanhado de um baixo desenvolvimento social. Por isso, a situação geral do operariado neerlandês era péssima, assim como suas condições de habitação e trabalho. A Woningwet (literalmente “habitação” em neerlandês) surgiu em 1901 como a primeira lei de moradia pública na Holanda – a primeira atuação do Estado na acomodação dos trabalhadores rurais recém-chegados às cidades.

Inicialmente a Woningwet teve uma recepção ruim entre a burguesia imobiliária, por afetar a especulação, entre as administrações locais, por demandar desapropriações e fiscalização, e entre o operariado, por conta das desapropriações das ocupações irregulares. A Woningwet previa uma grande intervenção na vida pública local, até então pautada no liberalismo, demandando planos diretores, estipulando o preço do aluguel, determinando desapropriações, e incentivando a construção habitacional através de empresas sem fins lucrativos. Ao contrário do modelo das leis inglesas, notadamente higienistas, a Woningwet tinha um caráter fundamentalmente urbanista.
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Da matriz corbusiana na arquitetura brasileira

O trecho a seguir trata da inserção de Le Corbusier entre os primeiros modernos europeus. Nesse contexto, fica clara sua distância da questão social na arquitetura – tema caro aos modernistas alemães, especialmente Walter Gropius e Ernst May. No que tange a habitação de interesse social, Le Corbusier se distancia ainda mais do modernismo de matriz socialista, ao conceber o problema da demanda habitacional européia como um desafio técnico da produção em escala industrial – não como parte da lógica especulativa imobiliária dos lotes urbanos e da regulação dos preços de venda e de aluguel a partir de uma alta demanda por habitação.

O segundo trecho denota como a opção pela matriz arquitetônica corbusiana se relaciona diretamente com a aproximação de Lúcio Costa do Ministério de Gustavo Capanema, durante a Era Vargas. A partir dessa aliança, a arquitetura brasileiro, como propagada internacional, se tornaria sinônimo de “Escola Carioca” aos olhos do mundo nas décadas seguintes.

Excerto: “O primeiro CIAM ocorreu em 1928 no Castelo de La Sarraz, graças à amizade de Le Corbusier com a proprietária do Castelo. Nessa época, Le Corbusier tinha muito pouca experiência na construção habitacional e buscava propagar suas idéias. Entretanto, os participantes do evento eram profundamente diversos em vários aspectos e muitos só tinham em comum o fato de serem modernos. Esse primeiro congresso ecoaria pouco no campo arquitetônico europeu, desenvolvendo mais a sociabilidade entre os participantes do que suas idéias. Coetâneo ao CIAM era o XI Congresso da Federação Internacional para Habitação e Planejamento Urbano, em 1928 e 29. Esse evento, ocorrido no mesmo ano e com o mesmo tema do CIAM, era voltado para habitação de interesse social, mas aceitava amplamente todos profissionais da área, não apenas arquitetos modernos.
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Cultivando o preconceito: primeira aproximação de Glaura

Diria o antropólogo que o preconceito é o início de uma relação.

Minha relação sensorial com Glaura começa pela desinformação, pela deriva predefinida do Google Streetview, pelas poucas imagens disponíveis no Google Images.

Neste caso, o preconceito é parâmetro de comparação de uma posterior experiência aprofundada.

De qualquer forma, essas imagens registram a minha primeira visada com Glaura.

Primeiro esboço em 2H sobre o A3:

IMG_9907
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